Patrícia e Rafaela
CRÍTICA: Emma
Atualizado: 15 de mai. de 2020
Esteticamente belo, leve e com um pouco de humor, Emma não busca realizar grandes inovações, mas certamente faz jus a obra que busca adaptar
Se um aspecto se destaca na nova versão da adaptação da obra de Jane Austen é a preocupação com os mínimos detalhes para a construção de um filme, belo, elegante e de uma forma muito britânica, levemente cômico.

Emma, lançado em 2020, é uma comédia dramática de época britânica, dirigido pela estreante em longa metragem, Autumm de Wilde, adaptado pela escritora Eleonor Catton, fotografado por Christopher Blauvelt e com trilha sonora composta por Isobel Waller-Bridge e David Schweitzer.
Narra a história de Emma Woodhouse (Anya Taylor-Joy) uma jovem moça, um pouco mimada, fútil e egocêntrica, e um tanto quanto inocente, sonhadora e sem noção sobre as condições da vida dos outros, que também, possui uma certa aptidão/desejo para casamenteira.
A jovem vive com seu pai Mr. Woodhouse (Bill Nighy), um viúvo hipocondríaco. Os dois são constantemente visitados pelo vizinho e maior crítico de Emma, George Knightley (Johnny Flynn). Com seu intuito casamenteiro, Emma transforma em seu projeto pessoal, ajudar a jovem órfã Harriet Smith(Mia Goth) sua nova amiga. A trama se complica com a possibilidade de retorno dos jovens que foram enviados para morar com parentes distantes ainda crianças, Jane Fairfax (Amber Anderson) e Frank Churchill (Callum Turner).
Em Emma, assim como em outras obras da celebrada escritora britânica, é nítida a preocupação em expor as hipocrisias da sociedade no século XIX, bem como, a dificuldade na vida das mulheres que vivem sempre uma forte dicotomia entre amor e segurança financeira o que certamente afeta diferentemente mulheres de classes sociais diversas.

Considerando que a obra literária já era extremamente rica, não está na construção do roteiro as maiores diferenças que encontramos entre esta adaptação e suas predecessoras. Se algo chama a atenção no roteiro da adaptação atual é o cuidado de utilizar aspectos de uma língua um pouco mais arcaica, o que certamente colabora, para a elegância da obra e sensação de imersão naquele mundo longínquo e idílico.
E falando nas adaptações anteriores, se há algumas similaridades com a minissérie lançada pela BBC em 1997, há muito que lhe distancia da versão americana de 1996. Se aqui, em 2020, existe cuidado até mesmo com a construção da linguagem, lá em 1996, existe um certo descaso com a precisão histórica nos comportamentos, com excesso de toques, falta de postura e trejeitos muito casuais.
Um aspecto importante de ser lembrado, é a atuação de Anya Taylor-Joy (A Bruxa e Fragmentado) que com muito carisma conseguiu apresentar as diversas nuances que compõe a personagem título. Também, o alívio cômico, representado pelo pai de Emma, foi na medida certa, graças a atuação discreta, segura e levemente irônica de Bill Nighy que não transformou o viúvo hipocondríaco em uma caricatura.
Mas se há um lugar que Emma se destaca e se distancia de todas as outras adaptações, é na direção de arte e figurino. O figurino é belo e rico em detalhes. A reconstrução de época é incrível. As cores fortes e vibrantes são muito bem utilizadas na construção estética, a exemplo do belo azul das paredes internas da casa de Emma e das capas vermelhas das jovens órfãs . E, existe grande minúcia na utilização dos objetos cênicos para a composição dos ambientes internos. Elementos que a fotografia soube explorar muito bem com planos abertos simétricos, que nos encanta e deslumbra com a beleza dos ambientes, tanto internos e externos.
Por fim, os lindos figurinos e cenários são perfeitamente complementados pela trilha sonora, que se alterna entre canções populares e música clássica, construindo de um lado a simplicidade da vida no campo e de outro a exuberância das mansões habitadas pelos personagens.
Talvez não seja a obra mais original, em roteiro ou visão criativa de sua idealizadora, porém, existe grande mérito em fazer algo simples, muito bem executado.
Beijos,
Rafaela L.