Patrícia e Rafaela
OSCAR 2020: Adoráveis Mulheres
Atualizado: 30 de mai. de 2020
Por meio das relações estabelecidas entre as irmãs March, Greta Gerwig narra conflitos e dificuldades de se construir enquanto sujeito próprio em um mundo masculino. Um filme de mulheres sobre mulheres.
Adaptação da obra Mulherzinha de Louisa May Alcott, o filme escrito e dirigido por Greta Gerwig (diretora de “Lady Bird”), concorre ao Oscar 2020 em 6 categorias: Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Trilha Sonora, Melhor Figurino, Melhor Atriz pela atuação de Saoirse Ronan e Melhor Atriz Coadjuvante pelo desempenho da jovem atriz que vem chamando atenção, Florence Pugh.
Sendo uma obra diversas vezes adaptada para o cinema e televisão, passa pelo mesmo questionamento que “Nasce uma estrela” enfrentou no ano passado: “essa história realmente precisava ser contada mais uma vez?” E, para Adoráveis Mulheres, tendo assistido a versão cinematográfica de 1994, digo com segurança que sim.

Greta Gerwig traz uma dinâmica diferente ao romper com a linearidade da narrativa, adapta os problemas para uma perspectiva mais atual, mas principalmente, traz a sensibilidade feminina(ista) riquíssima para quem se propõe a contar uma história sobre mulheres, sensibilidade ausente na versão de 94.
O longa metragem narra a história das irmãs March durante a Guerra Civil Americana. Diferente do livro e das outras versões, Adoráveis Mulheres, começa a história com Jo (Saoirse Ronan) vivendo em Nova York e trabalhando de tutora para uma família, Amy (Florence Pugh) viajando em Paris com a tia March (Meryl Streep), em busca de um bom casamento que proporcione a ela e sua família um futuro seguro, Meg (Emma Watson), já casada e com filhos lidando com as condições simples de vida que seu casamento por amor lhe proporcionou, e Beth (Eliza Scanlen) já doente e acamada. Por meio de flashbacks somos aos poucos apresentadas a vida das jovens em sua casa, com a mãe (Laura Dern), durante os tempos em que seu pai esteve ausente lutando na guerra.
As cores quentes utilizadas para retratar o passado auxilia a construir a ideia da memória nostálgica e feliz quando comparado com os tons mais frios utilizados para narrar o presente.
Outros aspectos interessantes no uso da imagem, foram algumas questões simbólicas que podem ser observadas em uma cena de despedida que se passa na praia, a câmera foca no movimento da areia indo embora por força do vento, construindo o sentimento de que aquela pessoa também estava prestes a ir.
Ou então, em uma linda cena de um pedido de casamento que ocorreu em um grande campo, vemos ao fundo uma pequena igreja, construindo em imagens, também, a ideia da escolha entre o matrimônio e a liberdade para se tornar quem se quer ser.

O roteiro de Greta Gerwig, possui uma vantagem expressiva em relação a versão de 94 na construção das personagens. No longa, todas as irmãs March apresentam características próprias, possuem arcos narrativos e são fortes a sua maneira, nenhuma delas depende de um personagem masculino para o seu desenvolvimento pessoal, bem como, valoriza-se as relações entre elas.
Laurie (Timothée Chalamet) o amigo e vizinho das irmãs March, é mais um personagem no longa de Greta e em nenhum momento o desenvolvimento do personagem secundário ofusca a jornada das protagonistas, diferentemente da versão de 94, que ocupa boa parte do seu tempo contando a história deste.
No que diz respeito a perspectiva atual sobre os problemas enfrentados pelas irmãs, o foco na falta de opção para uma mulher sem propriedades é marcante, desde a perspectiva muito bem exposta por Amy, em um diálogo com Laurie, sobre o casamento ser uma relação contratual, até o dilema de Jo, que deseja ser escritora mas sofre pressões para casar.
Quanto a Jo, muito interessante a escolha realizada por Gerwig para contar o final do filme, o qual reflete, mais uma vez, as dificuldades para uma mulher se construir enquanto sujeito para além do papel de esposa em uma sociedade patriarcal.
Saoirse Ronan, considerada a Meeryl Streep de sua geração, entrega mais uma excelente atuação. Me encantei, particularmente, com a cena em que Jo conhece Laurie e os dois dançam no espaço externo da casa. A felicidade e irreverência transmitida pela atriz, é sensacional.
Florence Pugh, possuía o desafio de interpretar a passagem do tempo de sua personagem desde as cenas de flashback, ainda adolescente, até a mulher dos tempos atuais e, a jovem atriz, conseguiu desempenhar o papel com maestria.
Adoráveis mulheres é um filme lindo, com uma história encantadora, que nos transporta a outros tempos, porém, nos alerta para problemas extremamente atuais. Um filme de mulheres sobre mulheres, que merece ser conhecido.
Beijos, Rafaela L.