Patrícia e Rafaela
SUGESTÃO DA SEMANA #3: Estômago
Atualizado: 14 de mai. de 2020
O filme é de 2007, feito há 12 anos atrás, por que então escrever dele agora? Para mim, tem um lado emotivo… Foi o primeiro filme brasileiro que me encantei e, a partir dele, passei a apreciar e a valorizar o cinema nacional. Ele também representa de muitas maneiras a sociedade brasileira, serve de reflexo. É o melhor longa-metragem feito no Brasil? não sei, possivelmente não, mas, é um tanto quanto desconhecido ainda por cidadãos comuns (quem não faz parte desse mundão de cinema). Ele deve ser visto, é preciso apreciar e valorizar os filmaços que temos nesse brasilzão.

Longa-metragem do diretor curitibano, Marcos Jorge, “Estômago” é um filme que constrói dois ciclos narrativos em tempos diferentes da vida do protagonista, Raimundo Nonato (João Miguel), esses ciclos conseguem entrar em sintonia e se propõe a dar enfase ao tema proposto no filme.
A história acontece quando Nonato, retirante nordestino chega em São Paulo sem dinheiro e sem ter lugar para ficar, logo começa a trabalhar em um botequim em troca de comida e um quartinho nos fundos. Seu talento para a culinária é descoberto e ele acaba parando em um sofisticado restaurante italiano. A realidade da cidade grande contrasta com o jeito humilde e ingênuo em que Nonato leva a história. Paralelo a isso, vemos o protagonista na cadeia, conquistando poder e ascensão na hierarquia por meio do estômago e culinária.
O enredo acontece de forma cômica, mas desde cedo sabemos que algo vai acontecer no longa, por mais que existam as cenas na cadeia, a linguagem visual da obra nos propaga esse pensamento, correto por sinal. O roteiro nos leva a pensar ao longo do filme, o que será que aquele nordestino de boa índole fez para ir parar na cadeia e a revelação vem apenas no final. Nonato conhece a prostituta Iria, Fabiula Nascimento e a interpretação de ambos consegue nos convencer prontamente. Uma sinceridade que nos faz pensar que conhecemos pessoas assim, ou como se os conhecêssemos em nossas vidas.

A trilha acompanha a imagem e ambas se apoiam na linguagem de thrillers e filmes de terror, se tornam elementos indissociáveis. As músicas são de Giovanni Venosta, compositor de trilhas sonoras premiadas de filmes italianos (Pane e Tulipani, 1999 – Brucio nel Vento, 2001). Temos cenas ricas tecnicamente, como por exemplo a filmagem do banquete em travelling, a qual ajuda na passagem de tempo. O diretor Marcos Jorge por meio de “Estômago” crítica a nossa sociedade de forma sutil e cômica.
É uma obra visceral, cru e realista, que certamente merece ser vista, dialoga diretamente com o mundo de diferenças de classes que vivemos. Prisão, comida, humor, prostituição e crime.
Até hoje, sempre que vejo uma coxinha penso e visualizo a personagem Iria falando: “Coxinha boa pra caralho”. Duvido que depois de assistir, não terá a mesma experiência.
Tem gente que diz que faz mal porque é fritura, né…
Os médico diz que entope as veia…
Mas esses médico são encanador, agora?
Beijos, Patrícia L.