OSCAR 2019: Infiltrado na Klan
A história se passa nos anos 70, mas o espanto é como a realidade tratada no filme, se aproxima, e muito, da realidade atual Impactante e sutil ao mesmo tempo, o filme do diretor ícone da contracultura, Spike Lee, Infiltrado na Klan é uma prova de que o cinema de Lee permanece imensurável e inquietante. Indicado a 5 categorias do Oscar 2019 (melhor filme, ator coadjuvante, roteiro adaptado, edição e trilha sonora original), a obra é baseada na história real de Ron Stallworth (John David Washington), o primeiro policial negro a se infiltrar na Ku Klux Klan no ano de 1978. Para conseguir tal feito, enquanto o Stallworth se comunicava por meio de telefone com a Klan, o parceiro judeu Flip Zimmerman (Adam Driver) se apresentava pessoalmente nas reuniões do grupo. O filme aborda temas como preconceito na polícia, abordagem policial racista, homofobia e o principal, racismo. A história até pode ser nos anos 70, mas o espanto é como a realidade tratada no filme, é próximo da realidade atual. As críticas sociais da obra possuem o efeito de fazer o espectador rir ao mesmo tempo em que o deixa nervoso e reflexivo. O filme possui uma qualidade técnica de se admirar com muitas imagens de expressões, mas as estrelas são a direção e roteiro. A diegese de Infiltrados na Klan é impecável, com figurinos, trilhas e ações de acordo com a época e tudo muito bem construído. Ron Stallworth com a missão de se infiltrar na organização dos Panteras Negras (considerados ameaça ao governo), conhece a presidente de uma organização de militância estudantil (papel de Laura Harrier) e deixa o filme com intenções sérias um pouco mais leve. O assunto principal, no entanto, é o caso do policial infiltrado na KKK, organização racista de extrema direita, que por incrível que soe, ainda possui adeptos atualmente. O longa no seu decorrer é leve e sutil nas suas ações, até que chega o momento em que o diretor opta por mostrar na obra cenas do conflito de Charlottesville em 2017, neo-nazistas em protesto contra negros, judeus e imigrantes. As cenas são assustadoras, pois em meio a um filme que encena uma história do passado, o qual nos deixa em nossa zona de conforto assistindo, as imagens de Charlottesville representam o oposto e me arrisco a dizer que de todos os sentimentos, essa cena traz o que tem de mais impactante. O uso do silêncio no final dos takes leva o espectador a pensar no atual momento do mundo, movimentos racistas e preconceituosos estão crescendo e discursos de ódio cada vez mais, ganhando mais espaço. O diretor e o roteirista, nos tiram da zona de conforto de enxergar aquilo como passado. Eles em pouco minutos traçam uma linha do tempo que nos mostra que nada mudou, o líder da KKK repaginou a sua tática, ao invés do confronto direto abraçou um discurso mais neutro e conquistou cadeiras no legislativo. No final, o filme traz uma mensagem importante e atual. É incrível como o tema deveria estar para trás ao ponto de extinção, mas ainda precisa ser reforçado. E muito. Por fim, ficamos com a fala de Ron Stallworth “Se eu não for por mim mesmo, quem será?” Beijos, Patrícia L.
